RESUMO: O entendimento sobre anomalias nas edificações é indispensável, para todos os segmentos da construção civil. Os revestimentos de fachadas são de fundamental importância para agregar valor ao imóvel, isso devido ao bom aspecto estético, à proteção da edificação, melhorando a durabilidade, conferindo eficiência e valorização ao imóvel. Existem vários problemas patológicos que podem surgir nas fachadas. Entre as possíveis causas das manifestações patológicas estão às movimentações das estruturas, movimentações higroscópicas e movimentações ligadas à temperatura. Este trabalho tem como objetivo principal fazer um levantamento das fissuras em argamassa de revestimento de fachada em Salvador identificando as principais causas dessas anomalias através de uma revisão bibliográfica e um levantamento visual de edifícios de até vinte pavimentos.
Palavras-chave: Fissuras. Argamassa. Revestimentos. Fachadas
1 – INTRODUÇÃO
responsáveis pelo surgimento das fissuras
No presente trabalho apresenta-se um estudo sobre a incidência de fissuras em fachadas de edifícios da cidade de Salvador. As prováveis causas e origens podem estar relacionadas a diversos aspectos, entre eles a mão-de-obra e material de baixa qualidade, a movimentações das estruturas, a movimentações térmicas e higroscópicas. Geralmente o surgimento das fissuras nas argamassas de revestimento se torna perceptíveis após alguns anos de construção, por este motivo, e entre outros, é difícil apontar somente uma origem ou causa para estas ocorrências. Na maioria dos casos, uma combinação de fatores podem ser os
O revestimento da argamassa de fachada apresenta importantes funções dentre elas a de proteger os elementos de vedação dos edifícios da ação direta dos agentes agressivos, o isolamento termo-acústico, a de regularizar na superfície dos elementos de vedação, o que serve de base regular e adequação ao recebimento de outros revestimentos. A execução da fachada é uma fase da construção que exige mão-de-obra e materiais de boa qualidade para que evite futuramente o aparecimento de fissuras ou qualquer outra manifestação patológica na fachada.
As ocorrências das fissuras ou trincas podem ser causadas por retração, variação de temperatura, esforços mecânicos, recalques de fundação, movimentação higroscópica, dentre outras. Para Verçoza (1991), as fissuras podem ser ocasionadas pela retração da argamassa ou concreto, ausência de cura, o uso de areia inadequada ou contaminada, tempo insuficiente de
1 Graduando do curso de Engenharia Civil – Universidade Católica do Salvador. E-mail: juliguedes14@hotmail.com
2 Professor Adriano Silva Fortes Doutor em Engenharia Civil – UFSC/Universidade do Minho-PT. E-mail: fortesas@terra.com.br hidratação da cal, falta de juntas de dilatação ou, ainda, movimentações que absorvam a deformidade da estrutura.
Para prevenir o surgimento dessas manifestações patológicas é necessário ter um projeto específico para fachada, contendo todas as orientações técnicas da sua execução e as especificações dos materiais a serem utilizados.
Durante o presente trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica (livros, artigos, revistas, sites especializados) que serviram de base para o referencial teórico. Foram realizadas vistorias para observar as manifestações patológicas existentes nas fachadas dos edifícios, registrando-se cada caso por meio de fotografias, que serviram para auxiliar as análises sobre os tipos de fissuras que ocorrem nos edifícios de Salvador. Os resultados estão apresentados em gráfico e tabela, demonstrando as principais ocorrências de manifestações patológicas de fissuras em fachadas dos edifícios de Salvador.
2 – REVESTIMENTO DE ARGAMASSA EM FACHADA
conjunto
Argamassas são misturas de materiais utilizados na construção civil que possuem na sua constituição um ou mais aglomerantes, agregado miúdo e água, podendo ainda ser adicionados produtos especiais visando melhorar ou conferir determinadas propriedades ao
Os sistemas de revestimentos em argamassa são constituídos de várias camadas. A primeira é o chapisco, que serve de elemento de ligação entre o revestimento e o substrato e sua finalidade é facilitar o revestimento posterior, garantindo maior aderência, devido à sua superfície porosa. O emboço é a camada de regularização que também pode servir de base para outros revestimentos. A última camada e também responsável pelo acabamento, é denominada de reboco, constituído de uma camada fina com ou sem pintura devendo ter seu acabamento filtrado para após uma possível aplicação de tinta. Atualmente essas duas últimas camadas estão sendo substituídas por uma camada única que cumpre as duas funções de regularização da base e acabamento.
“o chapisco é a camada de preparo da base, aplicada de forma contínua ou descontínua, com a finalidade de uniformizar a superfície melhorando a aderência do revestimento. O emboço é a camada executada para cobrir e regularizar a base, já o reboco é a camada utilizada para cobrimento do emboço, propiciando uma superfície que permita receber o revestimento decorativo ou que se constitui no acabamento final”.
O revestimento de argamassa em fachada exerce um papel de fundamental importância para a garantia da durabilidade do edifício como um todo. Este apresenta importantes funções que, de acordo com Yazigi (1997), protege os elementos de vedação dos edifícios, auxilia na estanqueidade, isolamento térmico e acústico, regulariza a superfície e dá o acabamento final da fachada. No entanto, muitas vezes, esse revestimento é visto apenas como uma forma de esconder as imperfeições da base (alvenaria e estrutura), não sendo valorizadas suas importantes funções que são proteger, regularizar e dar acabamento aos elementos de vedação, além de embelezar o edifício.
Wiecnewski (2006) destaca como funções gerais, além das já citadas, as seguintes: unir solidariamente elementos construtivos; distribuir os esforços e absorver deformações; selar juntas; e, por fim, proteger os elementos portantes dos edifícios contra a ação do intemperismo e agentes agressivos ambientais.
Devida a pouca atenção dada ao revestimento, decisões importantes são tomadas na obra de forma empírica. Isso traz como resultado a incidência de manifestações patológicas, a elevação dos custos de produção e os elevados desperdícios de materiais, mão-de-obra e tempo. Segundo Borges e Montefuso (1996), um dos danos mais encontrados nos revestimentos de fachadas constituídos com argamassa é o aparecimento de fissuras ao longo de toda a fachada, sendo elas transversais ou longitudinais.
3 – FISSURAS
As fissuras são um tipo de anomalia, ou seja, fenômenos inadequados que surgem numa edificação e são frequentes em suas fachadas. Segundo Verçoza (1991), na maior parte das ocasiões elas são uma conseqüência de outros defeitos, tais como rachaduras nas paredes ou deslocamentos.
De uma forma mais abrangente, entende-se por fissura uma manifestação patológica resultante do alívio das tensões entre as partes de um mesmo elemento ou entre dois elementos em contato. É comum encontrar residências, edifícios, ou qualquer tipo de construção, que apresente algum tipo de fissura. Elas podem aparecer em uma fase prematura logo após o revestimento das fachadas, que é a situação mais freqüente, ou muitos anos após a conclusão do edifício, tendo diversas origens e ocorrer em diferentes locais na fachada.
“a grande incidência de problemas como fissuras mostra que o segmento da construção civil precisa se preocupar cada vez mais com o sistema de revestimento de uma edificação compatibilizando mão-de-obra e sistemas construtivos, de maneira condizente à Engenharia”.
De acordo com a revista Téchne 36 (1998), as fissuras podem ter diversas causas, podendo ser distinguidas entre as causadas por movimentações higroscópicas, estando à construção sujeita a variações de temperatura e as estações do ano, as causadas pela atuação de sobrecargas, sofrendo ação de cargas verticais causadas por deformabilidade excessiva de estruturas de concreto armado, causadas por recalques das fundações, causadas por retração de produtos à base de cimento.
Diante do levantamento realizado pôde-se observar que na maioria das fachadas que apresentam essas manifestações patológicas geralmente são de prédios antigos e em princípio, foi detectada que a causa principal é decorrente da falta de manutenção dos mesmos.
Figura 01 – Fissuras em argamassa de revestimento
3.1 – CLASSIFICAÇÃO DAS FISSURAS
As fissuras em revestimento de fachada podem ser classificadas segundo diferentes critérios: a abertura; a atividade; a forma; as causas; a direção; as tenções envolvidas; o tipo, entre outras. Porem, o trabalho apresentará somente as principais causas de fissuras A seguir são listadas:
− Por retração; − Devido a aberturas de vãos (janelas e portas);
− Por recalque;
− Devido à movimentação higroscópica;
− Devido à movimentação térmica.
3.1.1 – FISSURAS CAUSADAS POR RETRAÇÃO
A retração é um fenômeno que ocorre nas argamassas quando há uma redução do volume devido à perda de água para o meio através da evaporação. As fissuras por retração apresentam distribuição uniforme independentemente da carga aplicada. Diversos fatores influenciam na formação das fissuras por retração nas argamassas de revestimento dentre elas: número de camadas aplicadas, rápida perda de água seja ela por ação intensiva do sol ou pela ação do vento, camada muito espessa e dificuldade de aderência com a base.
Para Neville (1997), a pasta de cimento pode sofrer redução de volume de até 1% do volume absoluto do cimento seco. Sendo que a intensidade da retração é influenciada por diversos aspectos entre eles estão: a relação água/cimento, temperatura e umidade do ambiente, a velocidade de ventos, calor de hidratação do cimento, o teor de agregado e o teor de cimento da mistura.
Carasek (2007) afirma que a retração é resultado de um mecanismo complexo, associado com a variação de volume da pasta aglomerante e apresenta papel fundamental no desempenho das argamassas aplicadas, especialmente quanto à estanqueidade e à durabilidade.
As prováveis causas das fissuras, com direções aleatórias, existentes no revestimento argamassado das fachadas dos edifícios do Condomínio Júlio Cesar no Bairro Pituba, estão relacionadas à retração do produto cimentício, conforme mostra a Figura 02.
Figura 02 – Fissuras no revestimento de argamassa com direção aleatórias
3.1.2 – FISSURAS CAUSADAS POR RECALQUES DE FUNDAÇÃO
Recalque é um fenômeno que ocorre quando a edificação sofre uma movimentação vertical devido ao adensamento do solo. O recalque é uma das principais causas de trincas e fissuras em edificações.
Existem recalques absolutos e diferenciados. Os recalques diferenciados, são os que ocorrem quando uma parte do edifício rebaixa mais que outra gerando esforços estruturais, o mesmo também pode estar localizado nas extremidades dos prédios, essas fissuras aparecem inicialmente com inclinações nos cantos surgindo posteriormente uma fissura vertical causando problemas de ordem estética e funcional, podendo atentar contra a estabilidade e segurança da construção.
A maior parte das incidências dos recalques acontecem por falta de conhecimentos das propriedades do solo obtidos por sondagem prévia, projetos defeituosos das fundações e algumas vezes por serem executadas em solos compressíveis, baixa resistência, e com a presença de raízes, pois as mesmas absorvem água deixando o solo mais úmido podendo gerar o recalque ou tornar a região das raízes mais compactas podendo com isso danificar as fundações de concreto.
No recalque provocado por corte ou aterro, a fissura se desenvolve onde o terreno muda de corte para aterro, trazendo também como consequências fissuras nas janelas e portas, essas ocorrências não previstas podem levar toda obra à ruína.
Segundo Thomaz (1989), as fissuras provocadas pela acomodação da fundação podem ser evitadas com a inserção de juntas nas estruturas, a utilização das mesmas também pode evitar fissuras causadas pela movimentação térmica.
As principais conseqüências do recalque são fissuras na fachada do edifício e fissuras internas nos apartamentos. A seguir serão mostrados alguns tipos de fissuras causadas por recalque de fundações.
Os recalques diferenciados podem surgir de carregamentos desbalanceados, as fissuras que surgem possuem representações típicas com formas geralmente inclinadas, apresentando aberturas maiores na parte superior. Já o recalque provocado por corte ou aterro à fissura principal se desenvolve na mudança do terreno de corte para aterro, com sua abertura aumentando de baixo para cima além de surgir fissuras nos cantos de janelas e portas.
Figura 03 – Recalque provocado em solo Figura 04 – Recalque provocado por corte e
geralmente pouco compactado. (Thomaz, 1989) aterro. (Thomaz, 1989)
A presença de solo compressível ou de baixa resistência pode provocar movimentação diferencial da estrutura, o que causa o surgimento de fissuras. (THOMAZ, 1989)
Figura 05 – Presença de solo compressível sob a edificação (Thomaz, 1989)
A presença de solo com raízes deixam o solo mais úmido podendo gerar o recalque ou tornar a região das raízes mais compactas o que causaria o surgimento de fissuras. (THOMAZ, 1989)
Figura 06 – Fissuras provocadas por recalque advindo da contração do solo, proveniente da retirada de água por vegetação próxima. (Thomaz, 1989)
3.1.3 – FISSURAS CAUSADAS POR MOVIMENTAÇÃO HIGROSCÓPICA
A movimentação higroscópica é um fenômeno que ocorre quando há a movimentação da água, ou da umidade no interior dos materiais e pode ser resultante de diversos mecanismos de transporte.
As fissuras causadas por movimentação higroscópica, segundo Thomaz (1989), ocorre devido às probabilidades dos materiais utilizados que tem seu volume modificado à medida que absorvem ou expelem água.
Com o aumento do teor da umidade existe uma expansão do material enquanto que a diminuição desse teor provoca uma contração do material, as mudanças higroscópicas provocam essas variações dimensionais que exercem grande influência nas características de deformabilidade das alvenarias. Essa variação volumétrica pode causar fissuras, tendo formato semelhante às causadas por retração.
Figura 07 – Fissuração vertical da alvenaria no canto obra e fissura horizontal na base de alvenaria provocada por movimentação higroscópica. (Thomaz, 1989)
De acordo com THOMAZ (1989),
“As fissuras horizontais por expansão da alvenaria são causadas pelas movimentações higroscópicas por absorção de umidade de seus elementos constituintes. Ao absorver a umidade, tijolos, blocos e argamassas podem sofrer expansão e gerar movimentação diferenciada entre fiadas da alvenaria ou entre os tijolos e a junta de argamassa. Neste caso as fissuras são predominantemente horizontais”.
Figura 09 – Fissuras horizontais junto à base da parede por efeito da umidade do solo com presença de eflorescência
Essas fissuras podem se manifestar em qualquer local da alvenaria desde que haja presença de umidade ou junto a bases das paredes, provocadas pela umidade ascendente, que na maioria das vezes há a presença de eflorescências facilitando o diagnostico.
Figura 10 – Fissuras causadas por movimentação higroscópica.
3.1.4 – FISSURAS PROVENIENTES DE ABERTURAS (JANELAS E PORTAS)
É muito comum o surgimento de fissuras nas aberturas dos vãos decorrentes da não utilização de vergas e contravergas, da utilização deficiente ou até mesmo pela ausência ou subdimensionamento das mesmas. Nos edifícios encontram-se fissuras devido à presença de aberturas, geralmente com direções inclinadas, conforme ressalta Thomaz, (1989).
Para evitar à ocorrência dessas fissuras as aberturas devem receber reforços com a colocação de vergas e contravergas nas portas e janelas, seja pré-moldadas ou moldadas “in loco”. A aplicação destes reforços tem como objetivo a distribuição das tensões que se concentram nos vértices dos vãos.
De acordo com a Téchne 48, (2000), contravergas deverão ser utilizadas quando o vão exceder 0,50 m. As vergas deverão ser utilizadas nas janelas, portas e outras aberturas, mais precisamente na parte superior. Quanto ao material pode-se usar concreto pré-moldado, blocos tipo canaleta ou moldada no local.
A inexistência de vergas e contravergas podem causar o desenvolvimento de fissuras inclinadas a partir dos vértices das aberturas como se apresenta na figura 1.
Figura 1 – Fissuras causadas devido a aberturas de janelas
3.1.5 – FISSURAS CAUSADAS POR MOVIMENTAÇÃO TÉRMICA
A movimentação térmica é causada pela variação de temperatura que provoca aumento volumétrico dos materiais. Ao se resfriar as restrições impostas aos materiais provocam deslocamentos diferenciais com surgimentos de abertura de fissuras.
As movimentações térmicas de um material estão relacionadas com as propriedades físicas do mesmo e com a intensidade da mudança de temperatura. Uma das principais alterações físicas provocadas pela temperatura é a variação dimensional, ou seja, movimentos de dilatação e contração dos materiais. Esta variação causa o aparecimento de tensões que podem levar a deformações ou ruptura dos materiais.
Um material para ser resistente a diferença térmica deve ter boa condutibilidade térmica, baixo coeficiente de dilatação, baixo módulo de deformação e elevada resistência aos esforços de tração. THOMAZ (1989).
Os diversos elementos que compõem as construções estão expostos às variações de temperaturas sazonais e diárias que provocam movimentos de dilatação e contração que, associados às diversas restrições existentes a sua movimentação, resultam em tensões que segundo Duarte (1998), podem provocar fissuras, chamadas fissuras causadas por movimentação térmica.